Educação: o que dizem os especialistas sobre as aula remotas para as crianças
Conversamos com a Profª. Dra. em psicologia da educação, Roseli Caldas, para entender os novos hábitos em tempos de pandemia
Com a pandemia que tomou conta do mundo nos últimos meses, muitos hábitos tiveram que ser mudados e diversas atividades foram adaptadas para a nova realidade do isolamento social. Entre elas está a Escola e os professores que tiveram que transformar as aulas presenciais em atividades remotas, desde vídeos gravados, materiais didáticos online e as aulas síncronas através de videochamadas.
Diante desse novo cenário uma preocupação agora faz parte das pesquisas e estudos de alguns profissionais da saúde, como psicólogos, pediatras e psiquiatras, que estão pensando no bem-estar das crianças e jovens e como esses novos hábitos podem prejudicar a saúde física e mental de cada um.
Segundo um estudo divulgado em 2019 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), crianças de até quatro anos devem passar, no máximo, uma hora em frente a telas de forma sedentária, como assistir à TV ou a vídeos ou jogar no computador. Já a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda duas horas por dia como tempo máximo de uso de tela para crianças acima de seis anos e adolescentes.
A psicóloga educacional e presidente eleita da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), Roseli Caldas, lembra que apesar do estudo ter sido publicado antes da pandemia, devemos levar em consideração as recomendações, principalmente para as crianças da Educação Infantil. “Temos que entender que o principal agora é manter o vínculo das crianças com a escola. As recomendações da OMS devem ser consideradas, claro que adaptadas à realidade atual, mas sem esquecer da saúde mental dos nossos filhos. Para salvar o ano letivo não se pode condenar a saúde mental de alunos e professores”, explica.
Além disso, a especialista afirma que esse novo modelo de aula não pode ser considerado como um EAD, pois o Ensino a Distância tem propostas e técnicas diferentes do que está sendo realizado no momento. Devido à pandemia, as escolas estão oferecendo aulas remotas que não substituem o ensino presencial. “O que temos agora, de maneira nenhuma, substituirá o ensino presencial. É apenas uma exceção diante do momento em que vivemos. O principal objetivo dessas aulas é manter o vínculo, se aproximar em um momento de dificuldades, relembrar e deixar claro para a criança que a escola não desapareceu, e que é apenas um intervalo”, comenta Roseli. “Devemos produzir memórias com carga afetiva. Se o aluno for obrigado a ficar no computador muito tempo, sem desejar, isso pode afetar a relação dele com a escola, na volta presencial. Esse tempo deve manter a boa relação com a escola e com a aprendizagem”, completa a psicóloga.
O sedentarismo é outra preocupação, “se as aulas são muito longas as crianças têm um limite de movimentação muito diferente da realidade na sala de aula, onde elas se movimentam, brincam e interagem com os colegas”, comenta a psicóloga, que também explica a importância de criar uma rotina saudável. “É preciso pensar em um espaço para elas tomarem sol, brincarem, correrem e se movimentarem. Isso garante o bem-estar geral da criança”, afirma.
A dica é escutar as crianças e sugerir atividades cotidianas, como ajudar a varrer a casa, brincar de aulas de culinária ou ainda oferecer papel e lápis coloridos e pedir ajuda no home office que os pais estão fazendo. Apesar de ser um desafio para os pais, deixar as crianças sem fazer nada por um tempo, também é importante, pois elas acabam encontrando o que fazer de uma maneira criativa.
Outra preocupação que Roseli ressalta é sobre os hábitos criados durante esse período. “Se você deixar a criança em frente à TV, Tablet, Videogame e computador durante muito tempo, ela vai criar um hábito não saudável e que vai precisar ser desaprendido quando a pandemia acabar. Por isso, o ideal é participar com seu filho das videochamadas com a escola para manter o vínculo e depois propor atividades que não necessitem da tecnologia, usar brinquedos que estimulem a criatividade e que desenvolvam hábitos saudáveis”, finaliza a psicóloga.