O que faz um profissional das Relações Internacionais?

Relações Internacionais é a ciência que estuda a interação entre os diferentes agentes no cenário global, incluindo países, organizações internacionais e empresas multinacionais. A área pretende compreender a dinâmica política, econômica e social entre as nações e salientar a cooperação internacional para resolver problemas globais.

Para saber mais sobre o dia a dia da profissão, convidamos a nossa ex-aluna Nayara Khaly Sanfo. Vamos conferir?

O que faz um profissional das Relações Internacionais?

Um internacionalista ou um analista de relações internacionais é um profissional bastante eclético. É uma disciplina muito teórica,  que perpassa por diversas áreas do conhecimento, como: geopolítica, estudos culturais, economia, política internacional e ciências políticas, e faz com que o internacionalista tenha um senso crítico analítico muito profundo, permitindo que essa pessoa possa atuar em vários segmentos, desde análise de cenários prospectivos,  mercado financeiro, questões sociais até formulação de políticas públicas, gestão de projetos, trabalhar no terceiro setor em organizações não governamentais do Brasil ou internacionais. São todos campos de trabalho do internacionalista.

Como e quando surgiu o interesse pela profissão?

Meu interesse surgiu no Ensino Médio com a identificação de algumas disciplinas que estavam relacionadas ao curso. Eu sempre gostei bastante de geografia, principalmente na parte de geopolítica, história internacional, sociologia e sempre gostei de idiomas (inglês, francês e espanhol). Então, entendi, quando estava no terceiro ano, que essa afinidade já estava bastante alinhada e conectada com as relações internacionais.  Além disso, eu também queria seguir uma carreira diplomática no Itamaraty e as relações internacionais seriam um caminho.

Como é a rotina da profissão?  Como é o mercado de trabalho nessa área?

Como a profissão é bastante diversa e tem várias possibilidades de atuação, a rotina varia bastante. No meu caso, que trabalho no Terceiro setor, na Coalizão Antirracismo das Nações Unidas, minha rotina é em home office e inclui a leitura de relatórios sobre direitos humanos, muitas reuniões com meu time e com as organizações de base. Temos planejamento estratégico de eventos, como um evento que ocorrerá no final do ano, que é o recebimento de um mecanismo das Nações Unidas no Brasil. 

Quais formações e qualificações são necessárias para essa profissão?

Bom, acredito que seja interessante aprender outros idiomas. O espanhol, pela questão da América Latina, por sermos brasileiros latino americanos e o inglês por ser um idioma global. Além disso, é preciso ter uma abordagem aberta ao multicultural e aos direitos humanos. Portanto, cursos voltados a essa análise, nessa flexibilidade e com essa análise interseccional das questões humanas é muito importante para os profissionais analisarem o cenário internacional. 

Como é a questão da remuneração e reconhecimento da profissão?

Falando em termos gerais, a remuneração depende bastante, assim como em qualquer profissão. Quanto mais qualificado o profissional, maiores são as chances de uma boa remuneração. Portanto, a experiência, os cursos extras, a formação acadêmica, as experiências de voluntariado, as experiências dentro da universidade e os idiomas falados somam muito na hora em que o estudante de R.I termina o curso e vai para o mercado de trabalho. Mas posso dizer que muitos colegas que se formaram comigo estão hoje em posições de prestígio, com salários compatíveis ou acima da média. Então, eu acho que é bem remunerado. 

É importante falar que nós ainda estamos em uma caminhada pelo reconhecimento do curso. Apesar das pessoas dizerem, normalmente, que é uma profissão muito chique e muito interessante, percebemos que muitas pessoas nem sabem o que fazemos, então temos muito  que caminhar nesse sentido.

Quais são as dificuldades diárias da profissão?

Na minha área, que é a área do terceiro setor – na área de direitos humanos, é justamente desmistificar as narrativas que invalidam os direitos humanos e as organizações que trabalham com isso. Então, é mais ou menos, uma luta por narrativa. A partir disso, uma segunda dificuldade, ou desafio, é inerente a um mundo globalizado e ao diálogo intercultural, ou seja, o diálogo entre culturas. Apesar de ser uma dificuldade, também é a parte mais prazerosa, e a que eu mais aprendo na minha profissão, fazendo com que a autocrítica esteja sempre latente.

Quais são os pontos positivos e negativos dessa profissão?

É uma profissão que abre muitos caminhos e caminhos diversos, justamente por trabalhar em uma arena internacional com vários atores envolvidos. Então você tem muitas possibilidades de atuação e consegue juntar vários gostos e vários interesses no seu trabalho. 

Hoje, eu trabalho com o Serviço Internacional para os Direitos Humanos e com a Coalizão de Racismo das Nações Unidas. Mas eu já tive a oportunidade de trabalhar com educação na base, dando aulas com tradução, sendo intérprete de línguas; no setor público, como assessora parlamentar, enfim o profissional de relações internacionais tem sorte de ter muitas áreas que precisam desse olhar crítico, analítico e interseccional. Temos muitas áreas de atuação, só precisamos construir esses caminhos.

Falando sobre os pontos negativos, eu acho que está na base do reconhecimento da profissão mesmo, das relações internacionais. 

Que conselhos você daria para quem quer ingressar nessa área?

Tirem a ideia do glamour. Relações internacionais é apenas um nome bonito. Percebo que muitas pessoas entram nessa área procurando glamour. 

O que eu recomendo é olhar a grade curricular do curso nas universidades que você quer prestar vestibular. Veja se faz sentido para você em uma linha a médio e longo prazo, ou seja, depois da faculdade, o que você quer fazer e que caminho você quer seguir. 

Assim que entrar na faculdade, já comece a alinhar o que você quer construir, assim ficará mais fácil com relação ao mercado de trabalho e o acesso às boas oportunidades de emprego. 

E caso o seu sonho seja ir para o Itamaraty, saiba que você não precisa ser um internacionalista. Você pode prestar concurso público e se tornar diplomata. 

Nayara Sanfo estudou na ENSG entre 2008 e 2013. Hoje é Mestranda em Relações Internacionais pela Universidade Federal do ABC e  Consultora Fellow da Coalizão Antirracismo das Nações Unidas (UNARC) e do Serviço Internacional de Direitos Humanos (ISHR), onde fortalece os vínculos entre organizações de base com o sistema ONU.

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