O Aprendizado pela Dor
Por Larissa Lucas Souza, aluna do 2º ano do Ensino Médio
Minha mãe sempre me dizia que se eu não aprendesse pelo amor, iria aprender pela dor. Por isso, peço licença a vocês, para contar sobre o pior aprendizado da minha vida.
Em março de 2020, o mundo começou a se desesperar por uma doença desconhecida, que nos obrigou a estudar e/ou trabalhar dentro de casa, iniciando uma longa jornada, onde tivemos que nos familiarizar com o Google Meet, máscaras, álcool em gel e responsabilidade (guardem essa última palavra).
Minha rotina passou a ser: acordar cedo para estudar de maneira remota, abrir a câmera e ignorar toda a aula, me distraindo com redes sociais e tentando decorar algumas danças para aplicativos. Às vezes, dormia a tarde toda e acordava com a minha mãe reclamando que eu não tinha feito as lições, que estavam no classroom. Já à noite, assistia aos noticiários e até ria de tanto sensacionalismo. Como que uma simples gripezinha estava matando tanta gente?
Um ano depois, cansei do isolamento social e decidi ignorar qualquer tipo de orientação da OMS. Sabia que o pai de uma amiga havia falecido, que a manicure da minha mãe estava entubada, que um grande músico brasileiro estava entre a vida e a morte e que milhares de pessoas estavam morrendo diariamente, mas eu não me importei. Afinal de contas, ninguém que eu amava estava doente.
Mesmo diante de muitas orientações da minha mãe, eu saía, ia a festas com meus amigos, deixei de lado o estresse da aula online e vivi a minha vida como se não houvesse amanhã. Eu achava que estava livre e, caso eu viesse a pegar, tudo bem. Seria fácil para me recuperar. Tenho quase dezoito anos, sou praticamente uma atleta e conheço um cara que sempre diz que ivermectina e/ou cloroquina mata o vírus. Então de boa, não é?
Quatro meses depois, eu escrevo esse texto para pedir desculpas. Sinto muito por todas as vidas que eu ignorei e por todas as restrições que eu desobedeci. Aprendi pela dor, que devo ter empatia e que estamos em um período caótico.
Aos professores, amigos, colegas, aos profissionais da saúde e desconhecidos, sinto muito por ter negligenciado essa pandemia.
E, mãe, hoje completamos um mês sem você. São trinta dias que você se foi por minha culpa. Saiba que aprendi com os meus erros e que não farei isso novamente. Pois aprendi te perdendo para uma doença que eu mesma acabei te transmitindo. Eu devia ter me importado mais com as pessoas…
A crônica acima, não é uma história baseada em fatos reais.