Como é o mercado de trabalho do sapateado no Brasil?
Dando sequência à nossa série de profissões ligadas à arte, no texto de hoje, conversamos com a nossa ex-aluna e professora de Sapateado, Júlia Tavares Nieman, que contou um pouquinho de como é o mercado da dança, principalmente o do Tap Dance. Vamos conferir?
Como é o mercado de trabalho?
O mercado de trabalho, na área de dança, é bastante vasto. Você pode atuar de diversas maneiras e em muitos segmentos. Dentro da área do sapateado, você pode ser professor (função que eu vejo como a mais rica e mais difícil). Você pode ser performer, que é a pessoa que ganha dinheiro se apresentando nos mais diversos lugares, shows, musicais, inclusive fazendo publicidade (comerciais/vídeos). Você pode também ser pesquisador do tap dance e da música, que é o nosso instrumento mais precioso de trabalho.
Quais as formações e qualificações que esse profissional deve ter?
O Sapateado, TAP Dance, não segue uma linha de formação como o Ballet, por exemplo, que possui etapas para serem cumpridas e assim se qualifica um bailarino “formado”. Para um Tap dancer, o estudo é infinito, sempre será possível combinar novos passos e “tirar” novos sons do nosso instrumento (sapato e o corpo). Mas, prioritariamente, eu diria que é muito importante ter um estudo histórico dessa arte, estudar muito sobre música, praticar muito, e todos os dias, e respeitar os mestres que mantiveram essa arte viva.
Como é a questão da remuneração e do reconhecimento?
Embora muita gente ache que não se vive de arte no Brasil, é sim, possível viver da dança. A remuneração é boa, principalmente se você consegue um trabalho fixo, como dando aulas ou tendo um cachê artístico em uma temporada de shows. É ainda possível fazer um dinheiro “extra” com workshops e publicidade.
O reconhecimento, falando da dança no geral, existe, mas poderia ser maior. O Sapateado mesmo, ainda é pouco conhecido no Brasil, porque é uma arte totalmente americana e a comunidade dos sapateadores nem sempre se une para promover mais essa modalidade. Esse reconhecimento já cresceu nos últimos tempos, visto que várias produções musicais usaram o sapateado, mas ainda precisamos de mais visibilidade.
Quais são os desafios diários da profissão?
Eu acho que o maior desafio, para mim, é estar sempre me superando. É treinar como o Ivery Wheeler (um sapateador que conheci em Los Angeles, que dedicou a vida ao sapateado e passou anos treinando 8 horas diárias para um show). É entender mais sobre música e, com certeza, vencer o cansaço físico, que existe por usarmos muito o corpo.
Qual o melhor e o pior dessa profissão?
O melhor, sem sombra de dúvidas, é ver o seu crescimento dentro da arte e ver que o seu trabalho está sendo bem executado, no caso de você ser professor. Além das conquistas diárias, de conseguir fazer determinado passo, entender aquela divisão rítmica dentro da música. Ou seja, o dia a dia é fascinante se,você amar isso!
O pior talvez seja vencer o cansaço físico, como já mencionei como um “desafio diário” e fazer com que as pessoas entendam que isso é uma profissão, que você estuda muito para conseguir ingressar nesse mercado artístico, que nem sempre é valorizado.
O que você gostaria de saber a respeito dessa profissão quando saiu da Escola?
Eu gostaria de ter tido aula de matemática pensando em música, porque com certeza seria mais fácil de aprender. Mas em relação à escola e à minha profissão, eu acho que é sempre legal a escola mostrar como a arte é parte da nossa vida e como ela transforma o mundo. É muito legal e gratificante ver que eu cresci em um lugar que valoriza o meu trabalho e coloca isso para os alunos diariamente, com as aulas de educação musical, de história da arte e artes do corpo.
Que dicas teria para quem quer ingressar nessa área?
Minha dica principal é: respeite a história dessa arte, antes de querer ser parte dela. Converse com os “mestres” do tap dance mundial e escute a música! Estude muito tanto o sapateado quanto a música e se empenhe em dar o seu melhor. Você vai conseguir!
Júlia Tavares Nieman é professora e coordenadora do curso de dança da ENSG, onde assinou a direção geral de três espetáculos de final de ano.